Olá! Boas-vindas à segunda edição da coluna Por Favor Me Matt. E já vamos começar essa edição com uma DR.
Agora que estamos na segunda edição e isso aqui passou oficialmente a ser algo, acho que é necessário alinharmos as expectativas entre eu, você e essa coluna que nasceu meio sem querer, mas está começando a criar perninhas próprias.
Quando criei o Por Favor Me Matt, eu estava naquele momento "vou escrever UM texto só pra botar essas ideias pra fora e pronto, criei. Depois, se eu mudar de ideia, é só nunca mais voltar.". Pois bem. Cá estamos na segunda edição. E com isso, surge a dúvida: afinal, o que é essa coluna? Vai ter tema fixo? Qual a frequência? Vai ser sempre sobre redes sociais? Sempre trará dicas? É sobre saúde mental?
A resposta curta: não.
Agora vamos à resposta longa. Se você viveu a era dos blogs, vai lembrar que a blogosfera era dividida basicamente em dois tipos de blogs: os de tema específico, que procuravam se limitar a um único escopo (fosse humor, culinária, moda, análise de séries, etc); e os blogs pessoais, que eram basicamente um diário aberto na internet, onde a pessoa falava de qualquer coisa que desse na telha. Com as newsletters, vejo o mesmo fenômeno acontecendo. Tem quem faça só sobre política, só sobre comportamento, só sobre cinema… E tem quem só queira um cantinho pra escrever qualquer bobagem que venha à cabeça.
Se você me segue hoje no Bluesky ou me seguia no Twitter antigamente, já sabe exatamente em qual dessas categorias eu me encaixo melhor. Sou, por natureza, incapaz de manter uma linha editorial fixa. Estou sempre pulando de uma insanidade aleatória para outra. Então, naturalmente, quero seguir essa linha de múltiplas possibilidades e diversos assuntos curtos em uma única coluna. Essa possibilidade é um dos motivos pelos quais sempre me dei bem com microblogs.
Porém, eu também quero manter um espaço editorial para poder falar de um único assunto de forma mais extensa, como fiz na edição anterior, porque às vezes sinto necessidade disso. Gosto de criar caoticamente, mas também gosto de ordem controlada (muito fogo e muita terra no mapa astral), e nem sempre 280 caracteres são suficientes (e eu prefiro evitar fazer threads porque um dia botei na cabeça que, se a única maneira de discutir um assunto é fazendo um fio enorme com 24 tweets longos e aprofundados, talvez isso signifique que esse assunto não deveria estar sendo discutido em uma plataforma que te obriga a escrever textos curtos e resumidos — princípio que tenho resumido com "dar ao microblog o que é de microblog e, ao blog, o que é de blog.").
POR ISSO, estou estabelecendo para vocês que, daqui em diante, haverá duas colunas minhas com linhas editoriais diferentes.
A primeira, a Por Favor Me Matt, é esta aqui, a que você já conhece: mais extensa e focada em destrinchar um único assunto que quero conversar com vocês. Dada sua natureza específica, ela será menos frequente que a outra newsletter, já que requer um tema, mais tempo e provavelmente um leve surto que me diga "preciso escrever sobre isso", assim como foi na primeira edição.
A segunda será a Insanidades Aleatórias. Essa será a irmã bagunceira. Mais curta e mais frequente, será onde falarei brevemente de um apanhado de assuntos diferentes e provavelmente desconexos entre si, mas sem ficar enrolando. Basicamente várias tuitadas diferentes seguidas, mas um pouco maiores.
Quanto à frequência, fica combinado que não tem frequência. Não vou me comprometer com isso, porque, se virar compromisso, eu automaticamente vou desenvolver bloqueio e parar de escrever. Vamos manter assim, sem compromisso, porque aí faço quando quero e pego vocês de surpresa. Você vai estar passeando na timeline, pensando "eita, será que tem post do Matt hoje?", e daí pá, tem sim. Ok? Ok.
Pra facilitar sua vida e a minha, o título da newsletter sempre vai dizer de qual das duas se trata, assim você já sabe o que esperar antes mesmo de abrir.
Agora que já te disse como vai funcionar o espaço onde quero escrever, podemos falar sobre por que eu quero escrever. E acho que essa pergunta pode ser feita com diferentes ideias em mente.
Se você me perguntar "por que eu quero ESCREVER?" — com a ênfase querendo dizer qual o motivo de escolher a escrita, dentre todas as possíveis maneiras de espalhar ideias na internet — eu te direi: "Grande pergunta. Por que escrever? Por que não gravar vídeos e postar no TikTok ou no YouTube? Por que não criar um perfil no Instagram e fazer posts? Por que não pegar um microfone e gravar um podcast? Ainda mais: por que escrever numa plataforma que não dá dinheiro?". E a resposta é fácil: porque eu gosto de textos. Gosto de ler textos. Eu acredito numa web com mais conteúdo escrito. Eu não quero gravar um vídeo. Eu não quero fazer um podcast. Eu quero escrever. E, nesse momento, com vídeos e áudios tomando conta de tudo e as máquinas automáticas de plágio vomitando abobrinhas, acho que escrever textos é mais importante do que nunca. Não que eu ache que meu blog escrito em Bucetinha do Norte vai reverter a morte da web escrita, mas com certeza é melhor do que não fazer nada e ficar assistindo à morte lenta dela.
Agora, se você me perguntar "POR QUE eu quero escrever?" — com a ênfase no motivo, querendo saber o que está por trás dessa vontade — eu te direi: "Grande pergunta. E a resposta é fácil: porque eu quero. Porque eu gosto. E porque eu preciso." Uma vez, o Lucas C. Lima (amigo e escritor de terror) tuitou: "Escritores são ratos; se pararem de roer, os dentes atravessam o cérebro. Eles não querem roer, mas precisam.". Assim que li isso, me identifiquei profundamente. Escrever, pra mim, é uma dor de cabeça, uma necessidade física. Mas também é algo que eu gosto muito e me causa um prazer inenarrável. Ratos precisam roer. E eu sei disso desde sempre.
(Quanto às perguntas "por que EU quero escrever?", com a ênfase em mim, e "por que eu QUERO escrever?" com ênfase em desejar isso ainda seguem sem resposta, mas quando eu as encontrar, eu informo aqui também.).
Eu nunca me considerei um escritor, apesar de, em todos os momentos da minha vida, sempre ter estado escrevendo. Isso porque sou perfeccionista em nível incapacitante, e isso sempre me faz abandonar as coisas pela metade. E se ficou pela metade, na minha cabeça maluca, isso não conta.
Essa, inclusive, não é minha primeira vez tentando fazer algo assim. Pra vocês terem uma ideia do meu histórico, cito aqui algumas experiências prévias: lá pelos anos 2010, eu tive vários blogs diferentes (todos mortos e enterrados, graças a Deus). Fui dono de comunidades no Orkut um pouco antes disso. Depois, fui CDC (Criador de Conteúdo) de mais de 15 páginas diferentes no Facebook. Fiz muita HQ na MQTM (assunto pra outro Por Favor Me Matt). Já escrevi fanfics no Nyah! Fanfiction, no Spirit, no Tumblr, no Wattpad... E, não, eu obviamente não vou colocar nada disso aqui, porque vai que algum de vocês me reconhece de alguma das encarnações digitais passadas? Morro de vergonha só de pensar. Não mesmo.
Mas trago aqui pra compartilhar com vocês algo que aconteceu antes de tudo isso, algo muito mais antigo e muito constrangedor… A newsletter que eu tive na sexta série.
Ok, não era uma newsletter de verdade, mas meio que era sim. Pensa comigo: se o newspaper, "o papel de notícias", a gente chama de "jornal", é aceitável que chamemos a newsletter, a "carta de notícias", de "jornalzinho", né?
Sabe jornalzinho? Aqueles de bairro, que vinham com poucas páginas, uma ou duas notícias, muita propaganda, algumas piadas ruins no verso? Eu tive um jornalzinho como esses na sexta série, feito de papel almaço.
Na sexta série, meus professores entraram numa fase obcecada por papel almaço (você sabe o que é papel almaço, né? Aquele papel pautado que você provavelmente não vê desde, bem, a sexta série). Para toda e qualquer coisa, eles passaram a entregar pra gente papel almaço pra usar. Atividade de redação? Papel almaço. Fichamento de livro? Papel almaço. Lista de exercícios? Papel almaço. Rascunho? Papel almaço. Trabalho escolar? Papel almaço. Ditado? Papel almaço. Prova? Entregavam só um papel com as perguntas impressas, sem espaço para as respostas, e você tinha que escrever tudo no papel almaço. Alguns colegas meus tinham a letra muito grande, então começaram a reclamar que um almaço era pouco (lembrando que um almaço tem 4 laudas). O que aconteceu? Começamos a receber DOIS almaços. Começamos até a brincar que você não precisava mais levar seu caderno de dez matérias todo dia pra escola, porque em algum momento você ganharia um almaço pra escrever.
Minha hipótese é que o almoxarifado da escola estava com um monte sobrando e tinham que gastar o estoque pra abrir espaço.
Enfim. O motivo não importa. O fato é que comecei a juntar muito papel almaço sobressalente na minha mochila. E, em um dado momento, no final do terceiro bimestre, quando a gente já tinha passado de ano graças às notas, eu e meu colega Mateus, meu xará, começamos a usar papel almaço extra pra fazer um jornalzinho pra matar o tempo. Assim nasceu o "O Diário 100 Caderno Msm" (na minha cabeça infantil, esse trocadilho era o ápice da genialidade humorística, por brincar com o conceito de caderno jornalístico e caderno escolar).
(De aqui em diante, vou colocar algumas imagens para vocês verem. Tomei a liberdade de deixar a imagem da maneira mais crua possível, para que vocês possam, assim como eu, quebrar a cabeça tentando decifrar meus garranchos horríveis infantis. Mas, caso você queira ter certeza de alguma palavra que não leu, pode perguntar nos comentários ou consultar a descrição da imagem).
Capa da primeira edição.
O "O Diário 100 Caderno Msm" consistia num típico jornalzinho. Ele vinha com umas 4 ou 5 matérias (o que o tamanho permitisse) escritas por mim, com ilustrações do Mateus acompanhando (que a gente chamava de "fotos"), uma sessão de curiosidades avulsas (desde essa época coleciono fatos inúteis no meu palácio mental), algumas tirinhas ruins, alguns passatempos e vários espaços publicitários. Afinal, essa era a minha ideia infantil da época sobre o que era um jornalzinho.
Página de curiosidades da primeira edição.
A maioria das matérias eram piadas internas entre meus amigos ou então totalmente inventadas, como um suposto bandido chamado Peru Louco fugindo do presídio ou sobre uma lula gigante chamada Severina que apareceu na cidade e salvou o dia. Os patrocinadores e os produtos anunciados também tinham sua dose de piada interna.
Trecho da matéria sobre a lula Severina.
Chamada para uma notícia sobre vacas astronautas na segunda edição.
Alguns trechos deixam muito claro eu estava destinado a me tornar tuiteiro, como nesse trecho do quadro da previsão do tempo.
Quadro de previsão do tempo da segunda edição.
Outras sessões, como a de passatempos, inspirada na que vinha nos gibis da Turma da Mônica, já demonstravam minha paixão por puzzles, criar jogos e enigmas. E a coluna da Zebra Véia já trazia mesmo lá atrás, coisas como o "Palavra do Dia".
Caça-palavras animal da segunda edição.
O jornal só teve 2 edições. E, embora eu não me lembre da gente fazendo ele, lembro de ter me divertido muito. E também me diverti de novo ao reencontrar. Acho que mais ri do que senti vergonha alheia, então deve estar tudo bem compartilhar isso aqui.
Mas você deve estar se perguntando o motivo de eu ter decidido falar sobre isso aqui e mostrar pra vocês. Bom, o primeiro motivo é que eu estou aqui como uma forma de entretenimento, e desde que eu encontrei esses almaços enquanto arrumava uns papéis velhos no meu armário ano passado, eu senti que deveria mostrar para alguém e falar sobre isso. Na realidade, minha intenção era que a primeira edição disso aqui fosse sobre esse jornalzinho, mas o assunto sobre dicas me deu ainda mais vontade de escrever e, num surto de escrita, acabou passando na frente. O segundo motivo era tentar trazer alguma forma de reflexão aberta sobre como eu estava sentindo que eu não sabia o que eu queria da vida hoje, mas, de algum modo, o eu do passado sempre soube. A resposta sempre esteve ali. Eu sempre gostei de criar.
Quando ouvi falar de Substack (bem antes de toda a história com os nazistas), quando ouvi falar de newsletters no geral pela primeira vez, foi inevitável lembrar do "O Diário 100 Caderno Msm". Por um momento, até pensei em fazer uma newsletter e recriar o projeto de um jornalzinho, numa pegada meio parecida com o divertidíssimo Jornal A Tribuna de Araçoióba da Paula Gomes (que, inclusive, recomendo). Mas quando mais pensava sobre newsletters, quanto mais eu mais lia newsletters, mais eu via o formato que não é o que eu procurava. Newsletters presumem uma frequência que eu não tenho, e a ideia de encher o e-mail dos inscritos com um monte de bobagens me causava crises de ansiedade. E logo percebi que o que eu queria também não era exatamente um jornalzinho como o que eu tinha na sexta série… Não. Isso já tinha ficado na sexta-série. Eu queria um espaço pra escrever sobre diferentes assuntos, como um jornal de diversos cadernos, mas sem ficar eternamente limitado a emular o formato jornalístico, como antes. Ou seja: o que eu queria era um blog.
E aqui estamos.
Pra fechar, se você chegou até aqui, deixa o seu "gostei", compartilha nas redes sociais ou com um amigo, aquela coisa toda. Se você também já teve um diário, blog, jornalzinho ou qualquer projeto editorial vergonhoso enquanto criança, me conta nos comentários! E, claro, me segue no Bluesky pra ver conteúdo que poderia estar aqui, mas que eu provavelmente vou acabar postando lá mesmo por preguiça.
Vejo você de novo na próxima edição (seja ela um Insanidades Aleatórias ou um novo Por Favor Me Matt).
Até mais!